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Mal
entendidos
Alexandre
Beluco
O
pequeno barzinho da cooperativa agrícola é
sempre bastante movimentado, principalmente nos finais de
semana. Os colonos de origem italiana (na grande maioria, além
de alguns de origem alemã) ali jogam cartas e sinuca,
além dos velhos e cultuados hábitos de contar
piadas e de trocar mentiras, organizando-se em pequenos
grupos.
José,
um gaúcho forte, descendente de italianos, contava, a
certa altura, como seu filho lhe descrevia uma tentativa de
contato de marcianos com americanos, que ele havia lido em um
livro de um autor germano americano de nome complicado.1
Era
mais ou menos assim: "um bicho esverdeado, com nervuras
na cabeça e com grandes olhos esbugalhados, que se
aproximava da casa com um estranho gingado, falando e
gesticulando através de peidos e sapateado. O tal
americano do livro não perdeu tempo e descarregou seu
fuzil no que acreditou ser a cabeça do extra
terrestre".
Todos
riram. É claro que não era uma piada, mas riram
da imitação de algo vivo, com cabeça,
tronco e membros, se movimentando como que dando espaço
para a vazão ritmada de gases.
Alfonso,
um amigo de José, também descendente de
italianos mas nascido no Uruguai, pensou, rindo-se com seus
botões e assistindo às imitações
do amigo e as gargalhadas convulsivas do grupo... "Será
que esse americano também enterrou a mulher e o
malandro disfarçado de marciano no quintal da casa?"
NA:
1
Kurt
Vonnegut, em “Destinos piores que a morte”.
©
Alexandre Beluco 2003.
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